Era uma noite de verão e não se sabia muito bem o por quê a ardência subia-lhe o corpo. Uma reflexão sem jornadas, ainda assim não entendia a submissão corporal de uma jovem de dezenove anos fresca e com pudores, que estavam a se perder em breve.
Seria uma casa a ser aberta sem chaves e sem permissão, sem lógica total de um abismo que poderia se afundar em breve. Deitou-se na beira de um rio e o calor continuou insuportável como a presença de seres que estavam ali apenas para satisfazê-la, e ela mesma não sabia qual era a satisfação a ser realizada.
Queria mesmo era afogar-se no rio, como Virginia Woolf, enfiar pedras em seu casaco (em seu caso imaginário) e afundar em um rio de águas límpidas e refrescantes.
Mas não podia, era noite, quase manhã de sol, um calor ainda subia pelas suas pernas a chegar em membros em que ainda não conhecia. Começou a conhecer seu corpo através de uma segunda pessoa, que enfiava-lhe a cabeça entre suas coxas e vasculhava um local onde não queria reconhecimento alheio, nem mesmo o seu. Mas era noite, era moça e queria, sim, queria mesmo com medo de apegar-se no que não deveria.
Com os segundos passando, os minutos chegando e a noite não passava, faltava-lhe mais o ar, tentava encher o pulmão e tentava mais satisfazer o segundo, que conheceu há poucas horas. Conheceu o resto do que temia, tentou afundar-se na terra, na lama, num labirinto sem fim, que não pudesse nem mesmo encontrar a si mesma. Era medo, talvez a morte de sua própria personalidade.
O começo era difícil, sentia medo, aflição e gozação, mas era difícil e árduo. Mas o que não sabia é que o final seria mais dolorido.
Além de roubar-lhe o corpo, roubou a alma e sentimentos que o segundo mesmo despertara, agonizante se foi, deixou migalhas e depois o vento e a brisa espalhou por outros campos.
A jovem ficou com a dor que continuou, no começo foi mais fácil, depois a gozação acabou.
Queria ela ser como homens, ah sim, como homens que não medem a fragilidade alheia e não deixam se entregar a qualquer uma que não merece o sua alma, talvez o segundo não merecesse mesmo e por isso não se entregou como ela.
Agora mudou de cenário, deixou a beira do rio pelo cenário urbano, talvez um local frio em baixo de pontes e com barulhos, quem sabe o livro de Carolina Maria de Jesus a ajude em novas experiências.
Talvez a vasculha continue.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
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