quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Jardinagem.

Se perdeu em pernas e braços, abismos, precipícios. Quando anoiteceu, a garoa fria começou a cair nos telhados das casas e umidecia o mato que percorre seu quintal. O tempo estava morno e abafado.
Saiu para ver o mundo e cumprir seus compromissos. Abriu seu guarda-chuva que enroscava em toda esquina que virava, sorria um sorriso aberto, apertava os olhos para desembaçar o que a garoa embaçava e via carros, pessoas e pedras no caminho que a permitiam dançar se pisasse em falso, pois escorregava e deslizava.
Sentou num jardim florido, já havia acabado a primavera, mas as flores continuavam a colorir o dia e a perfurmar as ruas. Admirava as gotículas de água que caíam do céu e que molhavam todo o seu telhado. As pessoas andavam depressa, os carros acendiam seus faróis e seu tempo parecia parado, apenas a perceber o que passava em sua frente.
Sempre que tentava escapar de suas obrigações refugiava-se nesse jardim, via pessoas, movimento e, de certa forma, estava perto de seu porto-seguro. Pensava em sua vida e mergulhava em sua mente.
Se ali as pessoas passavam, dentro dela os momentos vividos vinham e divagava. O que era uma formiga que passava, dentro era um leão prestes a devorá-la.
Seus pensamentos eram formados em uma forma de confortá-la. Pensava no pior para se preparar no que vivia, mesmo que o que viesse fosse algo que lhe confortaria.
Soube aprender. Aprendeu a sentir todos os sentimentos que dentro poderia caber.
Seu jardim interno guardava todas as plantas e flores, que o mais belo jardim pudesse guardar. Eram rosas, orquídeas, comigo-ninguém-pode, bromélias, arruda, pimenta... Mas em si estava na época de coração magoado, que lhe tomava toda.
Sorriu largo, voltou pra casa, abriu a janela e viu a garoa cessar fazendo seu mato crescer.


[e assim perco meu tempo, ganho minha vida e perco aulas de educação]

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