quinta-feira, 24 de setembro de 2009

'Deus é que se foda!'

Padre descobriu folhas e fotos guardadas em uma sala no subsolo da Igreja. Estavam roídas por traças, úmidas devido a umidade da terra e amassadas por alguém que não queria que visse.

Cuidadoso, recolheu tudo e foi para seu quarto analisar o que poderia trazer simples papéis.

Era de um menino que Padre ensinava, estava prestes a ser crismado. Um menino estranho, vivia nas proximidades da Igreja, nas ruas. Não tinha ninguém, e não havia despertado o interesse no Padre de adotá-lo, afinal, o mísero dinheiro que ganhava através da Igreja era tão pouco, que mal dava para alimentar ele só. Uma criança seria muito para ele.

Havia horas que Padre soltava frases contra a sua própria Igreja: "Deus é que se foda!". Lógico que, tudo escondido para não perder o emprego.

Não sabia muito o por quê de toda aquela papelada trazer lembranças, pareciam recentes e pareciam dele.

Eram fotos de quando ele namorava com Donzela, cartas da juventude e do amor, incluindo a última carta dizendo que ele havia perdido o emprego e que a única saída seria fantasiar-se de Padre para pagar seu mantimento. Dando 'Adeus' a Donzela e seu amor, em troca de mentiras para dinheiro.

Ao folhear, mais fotos de Donzela, gorda, barriguda, peituda e com cara de desgraça. Não entendia muito bem, mas parecia estar esperando um herdeiro, mas 'péra', um herdeiro do Padre! Havia uma certidão de nascimento do estudante da Igreja e um atestado de óbito de Donzela.

'A desgraça não deixou nada para o menino, que agora veio atrás de mim. Vai se fuder mesmo, viu Deus?!"

Pois é, o menino agora era do Padre, descobriu sem querer descobrir e agora queria morrer por ter sido curioso. Parecia que ninguém tinha nada haver, mas a verdade é que o Padre era o mais culpado, ainda mais agora, que o menino era a reencarnação de Jesus Cristo.

'Amém!'

(22/02/2007)

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