segunda-feira, 1 de março de 2010

Nascimento suicida.

Inesperadamente tudo começou. Vivia intensamente até então o que era nomeado de vida o que pra ela era concluído um suicídio.
Amarga era como se fosse um doce espaço em branco que aos poucos era colorido com as tintas opacas quase terciárias. Envolveu-se com o mundo, magoou-se amargamente com o passado. Seus espantos começaram quando percebeu que tudo desabava a partir da construção.
Amarga, amarga era depois de adocicada fora por fora e por dentro dos momentos e experiências que nela existiam. Era simples, começava engatinhando, os primeiros passos foram fáceis, um de cada vez começando pelas pontas dos pés, com a perna torta, os sorrisos em volta e o medo interno. Quando começou a correr as pernas quebraram, uma só quebrou para poder mostrar que ainda pode haver um apoio. Seus dentes nasceram, caíram, nasceram, entortaram, apodreceram. Seus sentidos aguçaram, seus sentidos vibravam com os dias que surgiam.
Docemente mentia, enganava-se, fugia de si mesma e encontrava tudo e nada. Era bela, a vida sempre fora bela, os sentidos sempre lhe faziam sentido, os meios sempre se encaixavam como os corpos de macho e fêmea se encaixavam. Amanhecia, anoitecia e tudo acontecia. Uma vida.
Salgou-se com a água do mar descobrindo que nem tudo matava a sede. Entregava-se perdidamente para os corpos excitados e eretos como se cada dia que passasse se tornasse cada vez mais virgem, desconhecida, descobrindo os prazeres que a carne lhe proporcionava, desfrutava e amava intensamente o que era pecado, o pecado sempre foi bom. Amargamente pecava, e pecava também por não sentir culpa de ser uma serva pecadora. ‘Pecar é sinônimo de viver e se está viva por que não pecar?’ – amarguradamente existia.
Ah, esses pudores filhos da puta que tentavam lhe impedir da vida vivida como se uma novela que passava era o correto. Ah, fodia, comia, sorria, gritava, gemia e assistia como se tudo fosse único e sabia que era única e se gabava.
A vida era amarga, Amarga sabia, soube, soube assim que o tempo lhe fugia, lhe corria desesperadamente para longe de suas mãos. O tempo fugia e lhe debilitava. Debilitava sua mente, sua memória, só sua alma a mantinha. Mas queria o corpo, o pecado, a morte da vida. Queria matar o tempo e não se matar com o tempo.
Tudo se perdeu diante da sua amargura. Amarga a vida e amarga a morte. Amarga. Continuou com o chamado ‘vida’, percebendo que nascer era um ato suicida a longo prazo, morrera de tanto viver.

[01/02/2010]

4 comentários:

  1. ...Ah, esses pudores filhos da puta que tentavam lhe impedir da vida ser vivida como se uma novela que passava fosse o correto. ADOREI demais! Tens um jeito ótimo de escrever! (L) Beijos flor

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  2. http://www.notivaga.com.br/consursos_lista_mostra.asp?autores2Page=5&idconcurso=330#escolhido

    dá uma olhada...

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