sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Quarto.

Assim conseguiu, após trancar-se em seu cômodo, chorar. Chorou, chorou a noite inteira. Era um alívio sem fim.
Seus suspiros aliviavam o peito, o nó na garganta se desfazia aos poucos, mesmo sabendo que este voltaria. Sentiu no silêncio a dor que ainda sentia e desistiu, começou a sussurrar uma melodia triste, lenta, que não a acalmara nem a afligia. Era uma música que mostrava a sua não existência. Chorava agora mais. Era a dor de nem mais existir. Não existia e agora tinha certeza disso. O silêncio a afligia, a matava. A sua voz sussurrada com soluços mostrava a sua inexistência.
Pois então, jogou-se no chão, sujou o carpete de lágrimas, descabelou-se como se alguém pudesse surgir para lhe arrumar para um novo dia. Não iria surgir ninguém e ela sabia disso.
Não tinha respostas.
Resolveu parar de sussurrar, começou a cantar mais alto, em um tom normal, ainda melancólico. A voz era suave, possuia ainda seu ritmo lento, pausada pelos soluços que lhe mostravam o som da dor. Não queria perder-se. Perdeu.
Parou. Respirou. Sentiu um alívio imediato pois parou de pensar. Não! Começou a gritar a música para seus tímpanos estourarem. Gritava, gritava, gritava... Não! Era a dor que lhe afligia, que lhe matava. O desespero de não existir e sentir a dor de uma existência em vão. Era ruim ser ela. Não havia mais tempo de superar a dor.
Gritou pela última vez. Um grito forte, alto, agoniante, seguido de um leve gemido de dor. Sentiu seu sangue parar.
Quando percebeu, estava pensando de novo. E pensar lhe doía. Viver era sua morte, e sabia que somente a morte lhe libertaria da dor, dos gritos, da inexistência, pois teria sua hora da estrela. Todos lembram quando se está prestes a morrer, ou quando se morre.
Pensou. Levantou-se, arrumou-se, abriu a porta e foi mostrar pro mundo como era, como era forte. Mas é tão fraca que só ela sabe. Mas morre, deixa-se dentro de seu quarto, dentro de sua ausência.

2 comentários:

  1. morrer dentro de um comodo e ser forte fora dele.

    ResponderExcluir
  2. Ah, foi interessante notar como a tristeza ainda me atrai como a lâmpada a um inseto...
    Ou é você que escreve muito bem, ou os dois...
    Exata é só a tristeza...

    ResponderExcluir